Santa Rita é uma cidade de extrema importância para a história do Brasil e mesmo insere-se num contexto internacional! Contudo, esta pobre “menina rica”, figura no imaginário coletivo e na imprensa, apenas como um lugar com elevado número de violência sem haver nenhuma ação afirmativa por parte dos poderes públicos locais, no sentido de reverter estes rótulos! A produção deste cordel, ao mesmo que apresenta as riquezas históricas e naturais da cidade, pode servir também como uma fonte histórica onde se possa pesquisar sobe a mesma de forma mais descontraída! Valdir Lima é historiador e poeta, sendo este seu primeiro cordel!
História de Santa Rita em Cordel.
Minha amiga e meu amigo
Preste muita atenção
Nunca escrevi cordel
Eis me aqui nesta missão
Para saudar esse povo
Que sonha com um mundo novo
Tempo de anunciação!
Nesse desafio imposto
De escrever sobre o lugar
Passei dias maturando
Um bom jeito de falar
Uma história tão bonita
Que nem todos acreditam
Na beleza que aqui há!
Santa Rita é história
Viva de se admirar
É coisa pra inglês ver
Também pra gringo filmar
Mas preciso lhes dizer:
Só não tragam a rede Globo
Para eu não me zangar!
Aqui tem de tudo um pouco
São Saruê, Shangrilá
Nárnia, a velha Atlântida
Parece um continente
O El Dourado de cá
Dentro doutro continente,
Agora eu vou lhes contar!
Terra de moça bonita
Que noutro lugar não há
Até as feias daqui
São belas de admirar
Mas os homens desta terra
Não acompanham esta sina
Têm mesmo que se cuidar!
Mas tem homem com história
De enaltecer o lugar
Tem dois que correram o mundo
E ainda correm sem parar
Um é Vidal de Negreiros
E Heliton Santana, o homem negro!
Um famoso e um popular!
Agora peço licença
Pra na história adentrar
Vamos tomar consciência
Das riquezas que aqui há
Saudando os ancestrais
Que viveram por aqui
Agora posso falar!
O Brasil foi invadido
Todo mundo isso já sabe!
No ano de 1500
Com total brutalidade
E o povo que aqui vivia
Índios e índias na alegria
Morreram com crueldade!
Logo o rei de Portugal
Chamado dom Manuel
Falando em nome de “Deus”
Mesmo sem ter permissão
Acorrentou nosso povo
Pregando um mundo novo
Inferno cheio de cão!
Alguns anos se passaram
E a conquista se firmando
O rei dava sesmarias
E os donatários enricando
Dividiram as capitanias
Hereditárias em quinze
E dose donos mandando!
Descobriram no nordeste
Terra rica, massapê
Boa para plantar cana
E os engenhos pra moer
O índio não se adaptou
E o português foi buscar
Os negros para sofrer!
“Um horror perante os céus”
Disse o grande Castro Alves
Trazer num navio tumbeiro
Reis, rainhas e doutores
Pra viver em cativeiro
De senhores sem estudos
Sendo deles prisioneiros!
Começou lá na Bahia
Terra de Porto Seguro
Depois na outra Baía
De Guanabara, me lembro
Vista no dia primeiro
De janeiro á dezembro
Carnaval o ano inteiro!
Desceu para o Pernambuco
Terra do Capibaribe
E o carnaval do vuco-vuco!
Onde passa o Beberibe
Lá da Mata, Nazaré
E a Olinda de Alceu
Leão do Norte ele é!
Chegando em Itamaracá
Terra de Lia cirandeira
Essa ilha hospitaleira
Era a Paraíba inteira
Antes de ser conquistada
Pela gente estrangeira
Início da caminhada!
Tudo começa com guerra
Muito sangue derramado!
Queriam a nossa terra
Destruir nosso legado
Signo de resistência e luta!
Uma terra de disputas
Demos bem, nosso recado!
Os portugueses atrevidos
Resolveram sequestrar
Logo a filha do cacique
Iniguaçú, popular
O que não deu muito certo
Muito branco assassinado
Página triste de lembrar!
As batalhas não pararam
Os índios não se rendiam
Lutaram de todo jeito
Não quiseram á escravidão
E em 85 anos
Num esforço sobre humano
Honraram sua nação!
Os franceses, muito “espertos”
Logo foram se achegando
Fizeram “boa” amizade
Com os potiguaras em bandos
Roubaram o pau brasil
Trocaram por coisa vil
Começou o contrabando!
Por outro lado, escutem
Os portugueses, truqueiros
Fizeram, pois, amizade
Com esse povo hospitaleiro
Eram eles, os tabajaras
Rivais pois, dos potiguaras
Começou o desespero!
Quem tá na guerra bem sabe,
Que esta tática existe :
Se junta por interesse
E o inimigo não resiste :
Depois se derruba o “amigo”
E todos comem o farelo
Dos porcos, es o castigo!
Daí que os lusitanos
Junto ao povo tabajara
Vieram por mar, cortando
E na Baía preparara
Uma grande conspiração
Que o nome do lugar
Passou logo a se chamar
Baía da Traição!
Andaram por terra virgem
Cortando o litoral
Pela nossa mata atlântica
Chegaram ao ponto final
Próximo ao rio Sanhauá
Renderam-os, sem dar sinal
É o que eu tenho pra contar!
No ato da rendição
Ninguém podia esperar!
Houve um “acordo” então
Das Neves podem chamar
Era 5 de agosto
Surge a nossa capital
E pros índios, só desgosto!
Mas naquele mesmo ano, 1585
No mundo acontecia, uma coisa surreal
Duas coroas na cabeça de um príncipe
Felipe II, agora rei : da Espanha e Portugal
Coisa que nunca se esquece!
Nosso nome agora era:
Filipéia de Senhora das Neves!
Ficamos por muito tempo, com este nome popular
Só mudamos novamente
Essa história, é de assustar
Agora pra Frederica
No domínio holandês
Que dominou o lugar!
Pra homenagear seu rei!
Depois veio Parahyba
Tendo dois rios, esse nome
Um do sul e um do norte
Que em tupy tem sinônimo:
Dificio navegação
Não quer dizer “rio ruim”
Preste bastante atenção!
Acontece que esse causo
É de sangue sim, senhora!
Anayde com João Dantas
Entram em cena agora
Ele mata João Pessoa,
1930!
Muda o nome e a história!
Mas agora eu vou voltar
Ao nosso foco central
Falo de terra importante
Aquela do canavial
Que já teve outros nomes
Foi engenho Real e Cumbe
Santa Rita, sem igual!
Quando aqui os portugueses
Na Parahyba atracaram
Chegando em Santa Rita
Massapê detectaram
Ser um solo bem propício
Para cultivar a cana
Um engenho instalaram!
O mirante do Atalaia
Primeira edificação
Nasce antes da Parahyba
Ponto de observação
É o nosso Forte Velho
Terra do coco de roda
Praia rica em camarão!
Logo em 1586
Foi erguido um engenho
Por ordem expressa do rei!
Para nosso desempenho
Economia pioneira
O Real foi o primeiro
Da terra canavieira!
A religião veio junto
Já na colonização
Edificaram a capela
De nome Sebastião
Foi lá em Tibirí Fábrica
Para obrigar os índios
Virarem todos cristãos!
Depois disso, minha gente
Capela não faltou mais
Cada uma diferente
Só aqui com mais de 30
Sendo nosso acervo sacro,
Pra início de conversa :
O mais belo do Estado!
Na estrutura do engenho
Tinha a casa da moenda e a outra de purgar
Rapadura e o mascavo
E a cachaça popular
Trabalhadores escravos
Negro banto e índio potiguar
Para produzir riquezas
E os senhores enricar!
Tinha o engenho São Francisco, Três Reis Magos
São Gonçalo, Santo André e Engenho Novo
Barreiros, Genipapo, Itapoá, Miriri, La Rasiere e São Tiago
Inhobi, Van der Dussen, Espírito Santo, do Meio, meu povo!
E haja tanto dinheiro
Enquanto á população pobre,
Vivia no cativeiro!
Nossa colonização
Vem de dentro para fora
Começa no interior e no centro de aprimora
O bairro do Cercado, Liberdade é agora!
Um pouso de viajantes, que passavam por aqui
Bem no Centro da cidade
Vocês podem conferir!
Terra da manga e do mangue
De riqueza sem igual
Primeiro distrito do Estado
Com capela rica em tropical
Falo da nossa Livramento
De Nenên, Sila e Lourival
E o cinema de Edivan, nosso talento!
Nós também temos três ilhas
E a primeira fábrica de cimentos
Península das maravilhas
Ninguém tem conhecimento
Stuart , das Andorinhas e a Tirirí
E na América Latina, esse tipo de indústria,
Começou foi por aqui!
Nossa luz chegou na frente
Desta terra pioneira
Temos a primeira fábrica
De tecidos, estrangeira
Nascia a Vila Operária
Dos Velosos Borges, uma página,
Tibirí Fábrica centenária!
Mas não se pode esquecer, da origem da cidade
O dono do engenho Cumbe
Vendeu-o por necessidade
Quem comprou era devoto
Da santa nascida em Cássia
Construindo em seguida
A capela lá na praça!
Apenas no dia 20 de 1839
Já no mês de fevereiro
Foi criada a freguesia
E o povoado inteiro
O nome da santa recebia
Santa Rita dos canaviais
Terra de gente de valia!
Dom Pedro II aqui veio
Numa noite de natal
Junto com sua família
Dormiu no engenho Central
Para conhecer a igreja
Do batismo de André Vidal,
Hoje usina São João, uma história sem igual!
O mesmo André Vidal
Governou o Grão Pará
Expulsou os holandeses
Ganhou fama singular
Foi imperador de Ângola
E essa página da história
Tenho agora que contar!
Em seguida, vem a feira
Livre e com cultura popular
O ano de 1823
No pátio da igreja Matriz
Fazia gosto estar lá
Tinha cordéis, repentistas
Para todos animar!
O cemitério ficava, onde hoje é a feira
E o Centro se findava
Na estação férrea derradeira
Depois veio á transferência
Pro loteamento Nice,
Morada por excelência
Lugar mais calmo não existe!
Aqui tinha três igrejas, ali na primeira praça
A matriz era dos ricos
E a da Conceição abraça :
Os pobres pardos e ainda falta os desvalidos :
Para os escravos, um espaço de cultos!
Mas construíram á do Rosário,
Vizinha ao Grupo João Úrsulo!
Mas, logo foram expulsos
Para ali, depois da linha
Abriram rua, construíram um grupo
E a modernização do Centro vinha
De jeito muito abrupto!
E hoje a Rosário dos Pretos
Em finados, tem festinha!
Lembrando que a data certa
Da nossa emancipação
É em março, dia 9!
1890! Ainda que um sem noção,
Mudou para 19!
Data da promulgação!
Assim, nem a santa aguenta!
Esta terra é rica em tudo, até na religião!
E á Umbanda da Paraíba
É de mãe Rita Preta o bastão!
Ancestral ainda viva!
Mas antes vem á Jurema
Da mestra Joana Pé de Chita
Que virou um mito então!
Também vamos recordar
Dos grandes ícones cristãos
Nosso pastor Ludovico
Famoso na região
Cravou seu nome na história
E na terra que tem memória
Ninguém esquece dele não!
Nossos padres têm história, hoje Dalmo, Berg querido…
Tinha o Monsenhor Abdu Melibeau
O Rafael de Barros, e o Manuel que virou político!
Padre Paulo revolucionário, que ninguém nunca esqueceu
Da teologia da libertação
Sem esquecer Josenildo, em favor dos oprimidos
Cumprindo sua missão!
Ninguém pode esquecer
Da rica contribuição
Das irmãs da Caridade
Na saúde e educação
Construíram um hospital
Uma escola, e resgataram
Da prostituta ao ladrão!
A cultura é nosso forte
Mas vou logo adiantar
Sem me esquecer dos jovens
Mas dos velhos vou falar
Caso eu pular alguém, vos queiram me perdoar
Um cordel é muito pouco
Pra tanta história contar!
Na música tem seu Castanha, Agnelo,Vera Lima e também Cleyton Ferrer!
Almir, Jurandir, Benalvo, PaiCarlos e Maurício Reis
Os maestros Miro e Bolota, seu Zé de Ataíde e a Philarmônica São José
Além dos blocos que é de lei:
Sapato de Pobre é Tamanco, Lira Vencedora e Segura o Bagaço
Cabeças e Caretas, 100% Baby, A Buxada,o do Vasco e o do Urubu Rei!
E a Tupy Guanabara com seu Manezin é o máximo!
Nas cênicas, Heliton Santana, que o mundo viajou
Fundou o Movimento Negro e o Teatro Popular
Até a BBC de Londres, por ele se interessou!
No Alto das Populares, elevou nosso lugar!
E tem Ivonaldo Rodrigues, grande artista de valor
Sua casa em Tibirí II, num teatro transformou,
Nunca esqueçam dessa gente, que nossa arte abraçou!
Em Várzea Nova tem o Santa Rita em Foco
E até um Beco do Forró
Tem seu Arcanjo escultor e seu Ciço cirandeiro
Que confecciona tambor
Carangueijo que nas costas
Tem a imagem do senhor
E ninguém Pode esquecer, nosso professor Sólon!
Muitos prefeitos tivemos
E deputados também!
Mas não quero falar deles,
Para a gente ficar bem!
Se for falar o que penso,
O cordel fica marrento
E eu perco o bom senso!
Nossa memória agradeço
A quem regou nosso jardim:
Seu Lapemberg Medeiros e Seu Viégas reconheço!
Tem também dona Cotinha e, da Farmácia, Francisquinha,
Que cuidou tão bem de mim!
Dona Leonor Gomes, dona Clara e Clarice, nosso apreço!
Estamos chegando ao fim!
E na nossa Educação, cumprimos nosso dever:
Maria Helena,Penhinha, Ariane, Jaqueline, Cassandra, Luzinete, Francisco de Assis, de Aguiar
Neves Vasconcelos, Salete, dona Lourdes do São José, Janeide e Jane para não esquecer!
A professora Isaura Guerra, Irmãs França, Veloso, Suplino e Tereza Leopoldina para completar!
Sandra Andrade, Fátima Palmeira, Família Américo de Almeida e os Severianos de Lima!
Josélia do Tibirí, Glaúcia e Terezinha, Escola União e o Santa Lúcia do Alto Popular!
Ana Pacheco, Irmãs Sena e a nossa bela Thereza Lins, que hoje está lá em cima!
Sem jamais esquecer nossas doutoras : Martha Falcão e Bernardina Freire
Geraldo Correia, Luíza Flores e Adriano, Josinaldo Pereira, Sandra Alves, Batistinha
Coroné Guerreiro, Ravengá , Jerry, Juan Carlos, Pedro Jr. e do Marcos Moura o CEFEC
Do Eitel, á nossa Ceiça, Paraíba do Forró e a Vassoura Isabel Bandeira, nossa Rainha!
Queria citar todo mundo, mas esse é o primeiro cordel, desse jeito não se esquece!
Terei muitos pra lançar! A gratidão é toda minha!
Deus escute nossas preces!
(Valdir Lima, 27.05.2016)