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Um Carnaval de Outrora

Na semana em que escrevo este texto, houve um dia, enquanto eu estava na frente da minha casa, observando a rua, que passou um vizinho falando com entusiasmo “Vem um urso ali, descendo a ladeira”! Ele se referia a Ala Ursa, uma brincadeira muito típica do período carnavalesco. Minha mãe, que estava conversando comigo no momento, respondeu que, quando criança, morria de medo do personagem. Já eu, pensei comigo que uma grande parcela das crianças da cidade não saberá o que é correr com medo das Ala Ursas. E a verdade é que, não só as batucadas dos Ala Ursas silenciaram e perderam a força, mas todos os festejos carnavalescos de rua do município.

O pesquisador José Arimatéia que publicou em 1999 o livro “Santa Rita e seus Vultos Folclóricos”, afirma que a Rádio Clube anunciava os clubes carnavalescos da cidade, entre eles, os Piratas do Santa Cruz e Piratas do Momo, a Escola de Samba Sapato de Pobre é Tamanco, Lira Vencedora, Industrial de Tibiry, Sempre Viva e as Tribos Indígenas Papo Amarelo e Flecha Dourada. E acrescento a esta lista, os blocos que eu vi pelas ruas durante a minha infância, o Bate Coração, 100% Baby, 100% Jacaré (Açude) e Água de Cheiro (Tibiri II). Recordo a Tribo Tupi Guanabara, única que se mantém ativa, de descer as ladeiras do bairro do açude e de ouvir de longe as batucadas das Ala Ursas. Assim sabíamos que o carnaval tinha chegado. Hoje, a Ala Ursa Várzea Nova, inciativa do coletivo Acorda Várzea Nova, tem mantido a tradição do festejo na cidade, mas não é incorporado pelas gestões ao que restou do carnaval.

Percebe-se que ao longo do tempo, o período carnavalesco em Santa Rita perdeu o brilho. A cidade passou a ficar deserta nos dias de folia, fazendo o município de Lucena se tornar, por determinado momento, destino certo para quem queria ser folião. Há alguns anos foi resgatado o carnaval do Bairro do Açude, onde shows são promovidos e conseguem manter uma pequena parte dos foliões na cidade. Mas há quanto o frevo deixou de ganhar as ruas?! Há quanto tempo deixamos as tradições se apagarem?! Há quanto tempo compramos fantasias para pular em outros carnavais e voltamos para o silêncio que afogou nossos festejos populares?!

Crédito da imagem de Capa: Ala Ursa Várzea Nova

Edryelle Marques
Edryelle Marques
Graduanda em História, atua no Grupo Acauã como pesquisadora e produtora cultural, integrou a equipe de organização do I e II Encontro de Coco de Roda, Ciranda e Mazurca e da I Pisada de Cavalo Marinho, Boi de Reis e Reisado da PB.