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Palco dos Divergentes

O Periódico Opinioso do Castelo da Curva do Rio

Trazendo pensamentos, lembranças, informações, entrevistas, comentários, o passado, o presente, o futuro e a narração de casos verídicos, em sua maioria fantasiados, escritos em prosa e verso pelo Segrel Paraibano Igor Gregório

Data: Vinte oito de fevereiro de dois mil e vinte cinco

Título: Palco dos Divergentes

“A Cultura é um remédio contra a violência. A Cultura é um território onde as pessoas depõem suas armas e conversam, em que as pessoas se interessam uma pelas outras, demonstram curiosidade umas pelas outras. E isso é um fator de aproximação e não de belicosidade”. É com essa fala, do nosso querido escritor Braulio Tavares, em uma das muitas palestras que ministra, que começo o texto de hoje.

Nos últimos anos o Brasil, e o mundo, tem mergulhado num grande mar de polarização ideológica e política, mergulho esse que ainda irá perdurar por longos anos, tenho certeza. Acentuado na eleição presidencial brasileira de 2018, esse mergulho desfez incontáveis amizades. A distâncias entre os divergentes ficaram incalculáveis e a percepção da intolerância ficou cada vez mais presente em nosso dia a dia. E nesse vai e vem danado, o diálogo foi se tornando um exercício bastante complicado e rareado. Todavia, depois da última eleição presidencial, em 2022, tenho percebido, pelo menos no meu círculo, um arrefecimento destas tensões ideológicas. De minha parte, estou tentando pregar o perdão que tanto o Cristo nos ensinou. É difícil. Mas é exatamente aí que a fala de Braulio me cai tão bem.

Todo o rancor que estava flamejando em mim, vem sendo apagado pelos ventos da poesia, das canções, das palavras e principalmente do amor pela cultura. Este amor, que é essencial tanto para os “gregos” quanto para os “troianos”, tem sido um desbravador de caminhos esquecidos que haviam sido cobertos pelo mato da indiferença. E no meio dessas veredas, tenho encontrado outras pessoas. Justamente as pessoas que eu tinha escolhido me manter afastado pelas diferenças já citadas, mas que, por elas muitas vezes nem saberem desta minha escolha de se distanciar, seguem me oferecendo o seu abraço. E eu? Depois de tudo que narrei, tenho aceitado esse carinho sincero.

Na última quinta-feira fui ao Sarau do Quiosque da Poesia. Por vezes, neste evento, evitei algumas pessoas, porém desta última vez, impactado pela fala de Braulio e já aceitando o sentimento de reconciliação crescente em meu peito, abracei os que eu julgava divergentes. No fim da noite, eu estava me sentindo mais leve, mas completo e mais poético.

A cultura é feita do coletivo, como todos sabem. A cultura, por mais que seja elaborada pelo artista em um ato solitário, ecoa, em suas técnicas, milhares e milhares de pessoas que vieram antes de nós. E quando o artista termina uma obra, que foi elaborada a partir do coletivo, será apreciada também por ele e, se prestar, será ecoada através dele, do coletivo. E, meu elevadíssimo leitor, o coletivo é, e sempre foi, o palco dos divergentes. Sem os divergentes não há cultura. Essa conversa toda me lembrou um versinho de Zé Limeira, ou Orlando Tejo, vai saber…

Crédito da imagem de capa: 5ª edição do livro O Poeta do Absurdo, de Orlando Tejo.

Igor Gregório
Igor Gregório
Nasceu na Parahyba. Escritor por vocação, já publicou vinte e um Folhetos de Cordéis, chegando a ser contemplado com premiações estaduais. Em 2023 publicou seu primeiro de livro de poemas: Alma-de-Gato no Voo da Alvorada. Além do trabalho impresso, tem uma produção ativa nas redes sociais, colunas e em saraus.