A primeira grande biblioteca pessoal que conheci pertencia ao professor Luiz Custódio, meu orientador no curso de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba. Ele era uma figura emblemática, respeitado por sua sabedoria no campo das comunicações, sua defesa da cidadania e conhecido por sua coleção de livros.
Durante suas aulas de Jornalismo Comunitário e Técnicas de Reportagem, Custódio mencionava frequentemente sua biblioteca. Pelo entusiasmo com que falava, imaginei que fosse semelhante às bibliotecas públicas, com estantes de ferro e milhares de volumes. No entanto, sua coleção reservava surpresas que iam além de uma simples acumulação de livros. Custódio possuía uma personalidade que misturava seriedade com humor, educação com sarcasmo, humildade com uma dose saudável de vaidade. Ele tinha um ar fascinante, fruto de suas histórias curiosas e gostos singulares, que destoavam dos padrões comuns do seu tempo.
Se a sala de aula era seu palco externo, explorando exercícios de compreensão e sensibilidade, sua biblioteca era seu santuário interno. Ali, ele planejava suas aulas e escrevia textos, acompanhado, possivelmente, pela música de sua paixão absoluta, Maria Bethânia. Frequentemente cercado por alunos em Campina Grande ou João Pessoa, a biblioteca se transformava em um palco de interação, onde a sua arte da escuta se manifestava. Essa troca fazia das aulas, por vezes, cansativas, mas sempre repletas de sabedoria.
Um dia, Custódio me convidou para conhecer sua renomada biblioteca. Isso se deu mais ou menos em 2006 ou 2007. Foi uma visão bem diferente da que eu imaginava. Livros novos e antigos dividiam estantes bonitas e elegantes, e a mobília e prataria eram de qualidade impecável. Ficava surpreso ao ver como a proximidade física da mesa aos livros simbolizava o acesso ao conhecimento.
Na visita, fui agraciado com um bolo e um café que o professor preparou naquela tarde. Era um pé de moleque, se a minha memória não falha. Ele me emprestou alguns livros essenciais para a minha pesquisa sobre a relação entre jornalismo e literatura, revelando um lado generoso e acolhedor. Esses instantes, complementados pela última olhada naqueles livros e móveis, solidificaram um desejo: “Um dia terei uma biblioteca assim.” Passado anos, posso dizer que tenho uma. Talvez não tão imponente como a dele, mas com o mesmo espírito de acolhimento.
A recente morte de Luiz Custódio neste início de 2025 trouxe à tona lembranças de sua importância em meu sonho de formar minha própria biblioteca. Refleti sobre o legado desses professores-jornalistas acadêmicos, discípulos de Luiz Beltrão e José Marques de Melo, que uniam universidade e comunidade. Hoje, a dedicação em construir um espaço de livros que inspire sua comunidade me parece cada vez mais rara. Assim, percebo que meu amor pelos livros e o desejo de criar minha biblioteca foram grandemente influenciados por Custódio, cuja vida ensinava a experiência do conhecimento compartilhado, transformando um palco interno em um campo de interação e amizade.
