O Periódico Opinioso do Castelo da Curva do Rio
Trazendo pensamentos, lembranças, informações, entrevistas, comentários, o passado, o presente, o futuro e a narração de casos verídicos, em sua maioria fantasiados, escritos em prosa e verso pelo Segrel Paraibano Igor Gregório
Data: Vinte e seis de dezembro de dois mil e vinte quatro
Título: Baroa
“E pelo menos o que escrevo não pede favor a ninguém e não implora socorro: aguenta-se na sua chamada dor com uma dignidade de barão”. Estes versos, pois entendo isso como poesia, são do livro A Hora da Estrela de Clarisse Lispector. Ao ler este livro percebi que, talvez, ele toque mais fundo quem possui o prazer da escrita. Me tocou.
E pensando sobre, me ocorre que escrever é um ato solitário, apesar das inúmeras vozes e influências literárias que gritam na mente de quem se aventura nas palavras. E eu percebi que gosto desta solidão. Quando escrevo “não peço favor a ninguém”. É que nela eu sou rei, plebeu, palhaço, donzela, amante, amado, sem caráter e honrado. Tudo atemporal e ao mesmo tempo. É nesta solidão que pulsa viva a veia da inspiração sem nunca “implorar socorro”. Pois é exatamente isso que o escritor faz: sente cada angústia que emana de cada juízo que andou e anda neste planeta e mesmo assim, com sua “dignidade de barão”, “aguenta-se na sua chamada dor”.
Não, um escritor não é melhor que ninguém. Pelo contrário, somos piores do que todo mundo. Mas tudo bem! A canalha tem seu charme… Seguimos ouvindo os lamentos de cada célula pulsada e, mesmo diante desta percepção fina da realidade, muitas vezes, constantemente até, fingimos não prestar atenção. Para quê? Para sobreviver. Para sobreviver negamos a Deus! Negamos o divino que lateja em tudo. E vamos simplesmente seguindo e fingindo até chegar à folha em branco.
Escrever é um ofício solitário sim. Egoísta muitas vezes. Mas escrever também é, como afirmei acima, um ato de empatia extrema: “sente cada angústia que emana de cada juízo que andou e anda neste planeta”. Precisamos sentir como os outros. Precisamos olhar com olhos de outras pessoas, gerando perspectivas diferentes, ao que se apresenta. E isso dói. Dói tanto que por vezes me pego chorando. Choro por coisas que nem sei. Sentimentos que não são meus. Ecos de outras vidas. Fatos que nunca existiram da forma que estou escrevendo. Choro. Choro de dor e de alegria e neste choro há a lágrima do mundo!
Quem me dera não escrever. Quem me dera ser uma estrela vagando no vazio do espaço simplesmente existindo alheia a tudo que acontece em nosso chão. Mas como questionou Voltaire certa vez: “Eis uma bateria de canhões que atira junto aos nossos ouvidos; tendes a liberdade de ouvi-la e de a não ouvir”? Não tenho meu caro, Voltarie. Ouço. Nós, os escritores, escutamos cada bomba que fere a tez deste globo.
Para finalizar: Eu pressentia Clarice! Eu paquerava com ela há anos! Uma daquelas paqueras adolescentes e covardes? Eu pressentia que, ao encontrá-la, algo desataria em mim. Sua leitura não iria passar em incólume. Tenho a impressão de que ela odiaria me causar esse impacto. Não sei! O que sei é o que senti! Escrevo, pois acho que é isso que ela faria e dessa forma alívio um pouco o furacão do meu peito. E choro, falar deste furacão me faz chover. Choro enquanto escrevo estas linhas, pois vejo nelas o remédio para esse choro. Quem me dera agora uma bebida, um cigarro e uma companhia inteligente que me fizesse viajar nos caminhos tortuosos que há em cada olhar. Mas eu não tenho nada disso agora, por isso, e por tudo que disse, escrevo! Hei de escrever para sempre. Vou viver escrevendo e vou morrer escrevendo, e seguindo com uma “dignidade de barão”!