O Periódico Opinioso do Castelo da Curva do Rio
Trazendo pensamentos, lembranças, informações, entrevistas, comentários, o passado, o presente, o futuro e a narração de casos verídicos, em sua maioria fantasiados, escritos em prosa e verso pelo Segrel Paraibano Igor Gregório
Data: Nove de fevereiro de dois mil e vinte cinco
Título: Anormalidade Capilar
Hoje, enquanto dirigia meu carro para o trabalho, eu vinha pensando: “Deus, o que faz uma pessoa ser normal”? Não tive muito tempo de elaborar uma resposta e é por isso que estou escrevendo agora. Estou descobrindo a resposta enquanto escrevo.
Talvez o “ser normal” seja aquele que faça o esperado. Talvez seja aquele que não pense, que só haja. Talvez seja aquele que não saia da sua rotina, e se saí faz de tudo para voltar. Talvez seja aquele que espere da vida o que ele é, normal! Mas acho que a Vida não seja assim, normal.
Elaboro: Tenho sofrido há uma semana com um odor de cabelo sujo na sala em que trabalho. É uma mulher que talvez tenha feito um procedimento de alisamento dos cabelos e por isso não pode lavar o danado. Meu elevadíssimo Leitor, é uma catinga de insosso tão grande dentro dessa sala, que, para piorar, vive com as suas janelas fechadas por causa do com ar-condicionado ligado. No entanto, em nome da normalidade, ninguém abre a boca para dizer: “Teu cabelo está podre de fedorento, visse mulher”!
Quem tem coragem? Eu mesmo não. Sou normal!
É em nome dessa pretensa normalidade que todos nós idolatramos todos os dias, como os mais fiéis dos súditos, que ninguém chega para essa mulher e fala a verdade. Ela, a Verdade, está diretamente ligada ao anormal em nosso mundo social. Sem ela, o normal reina em conjunto da mentira. Pois quando a verdade sai de nossas bocas, neste mundo de mentirinhas ocultas e não ditas, ela se torna o “anormal”. Só que tem um problema: Essa rotina desgraçada vai se encrostando em nossas almas.
Por ocultar uma simples verdade, “seu cabelo está fedendo”, ocultamos tantas outras anormalidades dentro de nós, sem nem perceber. Eu não sou psicólogo nem filosofo, mas eu tenho nariz. E assim como Gandalf, notável personagem do Senhor dos Anéis, ao se deparar perdido nos caminhos de Moria, eu sigo o meu nariz! Sinto com o nariz o odor da mentira em todos os lugares: “Está tudo bem contigo”? “Sim, tudo bem”! Mentira, não está nada bem! “Você gosta de fazer o que você faz”? “Gosto sim, eu visto a camisa”! Mentira, você só quer parecer normal e para isso precisa suprir todas as suas verdades para viver “tranquilo”.
Mas podem me questionar (ou não): “Como eu encontro a minha verdade”? E eu sei lá! Não sou um Mago de uma terra de fantasias para dizer que caminho seguir. Todavia, se posso seguir o exemplo dele, reafirmo: Siga seu nariz! Ele te guiará com certeza para as Flores da Verdade onde tudo é perfumado, belo e anormal. Ele te guiará para longe desse mundo de pedras, ruas, carros, poluição e mentira, onde precisamos enforcar com as duas mãos o nosso sangue, a nossa naturalidade, para simplesmente ganhar um salário-mínimo, para ter uma promoção, para comprar um teto, para criar um filho, para ter uma companhia na vida.
Estou cansado de mentir. Estou cansado desse odor que há em casa passo dado nesse mundo “normal”, como se o chão em que andamos estivesse repleto de coco de cachorro e a cada passo pisássemos e sentíssemos a terrível sensação de nojo. Estou cansado de mentir. O quanto vou aguentar? Não sei. Eu escrevo e com isso posso sentir os parcos sândalos deste planeta. Você não escreve? Então, mais uma vez, siga seu nariz. E procure com ele a verdade, a anormalidade que te faz bem.
E se posso dar um conselho, lavem os cabelos!