A sacerdotisa Mãe Rita Preta de Oxalá se tornou a primeira mulher preta e liderança de religiões afro-brasileiras a receber o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A cerimônia aconteceu nesta sexta-feira (20), no Templo de Umbanda Caboclo José de Andrade, em Santa Rita.
O reconhecimento foi concedido em virtude da trajetória de Mãe Rita, que é marcada pela atuação em práticas de cura, fortalecimento comunitário e preservação das tradições afro-brasileiras. De acordo com o professor Lusival Barcellos, um dos responsáveis pela proposta, ao lado dos professores Carlos André Cavalcanti e Valdir Lima, Mãe Rita desempenha um papel importante na espiritualidade da Umbanda.
Os propositores destacaram que o título também simboliza um gesto de reparação histórica e reafirma o respeito às religiões afro-brasileiras. “É um reconhecimento que chega em um momento necessário, homenageando a trajetória de uma mulher centenária com impacto significativo na sociedade”, afirmou o professor Valdir Lima.
A Reitora da UFPB, Terezinha Domiciano, falou com exclusividade ao Santa Rita Em Foco sobre a importância de reconhecer o trabalho de Mãe Rita na comunidade, “A Universidade Federal da Paraíba está de parabéns! É, talvez, o primeiro título dessa modalidade, no Brasil inteiro. O que só demostra o compromisso e a responsabilidade de reconhecer o trabalho e a ação desta grande mulher”, afirmou.
Sobre o título de “Doutora Honoris Causa”
O título de Doutora Honoris Causa (D.HC.) é uma distinção honorífica concedida por universidades a pessoas que se destacaram em alguma área, contribuindo para o avanço da cultura, das ciências, das artes, da educação, da política ou da humanidade. A pessoa que recebe o título de D.HC. não precisa ter um diploma universitário, mas deve ter se destacado em sua área de atuação. Além disso, deve ter uma trajetória reconhecida como exemplar e ter contribuído de forma significativa para a sociedade. Entre as personalidades que já receberam o mesmo título estão o Presidente Lula, o cantor e compositor Gilberto Gil e a atriz Zezé Mota.
Mãe Rita Preta tem forte atuação no cenário religioso e cultural da Paraíba. Com relevância incontestável, já foi tema de diversos trabalhos acadêmicos, exposição fotográfica e produções audiovisuais. O título de Doutora Honoris causa afirma a importância da sacerdotiza e reforça o combate à intolerância religiosa.
Na Paraíba, religiões de matriz africana estão entre as mais afetadas pela intolerância religiosa. Até novembro de 2024, foram contabilizadas 2.131 denúncias desse tipo de violação no estado.
Entre as manifestações de intolerância religiosa destacam-se:
- Depredação de templos religiosos
- Impedimento ou dificuldade para realização de cultos
- Comentários ofensivos e discriminatórios
- Agressões físicas
- Homicídios
- Demonização das divindades adoradas
A legislação brasileira combate esses atos de intolerância. A lei nº 20.451, de 22 de abril de 2019, estabelece penas que variam de 2 a 5 anos de reclusão para quem obstruir, impedir ou usar violência contra manifestações ou práticas religiosas.
Para denunciar violações de direitos humanos, estão disponíveis os seguintes canais:
- Disque 100
- WhatsApp (61) 99611-0100
- Telegram (digitar “direitoshumanosbrasil” na busca do aplicativo)
- Site do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania para videochamada em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Em todas as plataformas as denúncias são gratuitas, anônimas e recebem um número de protocolo para que o denunciante acompanhe o andamento da denúncia diretamente com o Disque 100.
Durante o evento, no mesmo local, o público pode visitar a exposição “Mãe Rita Preta e o Legado do Axé”, dos fotógrafos Nielson Lourenço e Rony Nascimento. As imagens retratam o cotidiano da matriarca centenária. Emocionado, Nielson comentou sobre como foi a experiência: “Foi uma honra! Ela tem uma energia incrível, que transcende qualquer explicação lógica. Foi um experiência única na minha vida”, afirmou.
Veja a galeria completa:
Além da exposição, foi produzido um curta metragem sobre os bastidores do processo de criação da exposição. O vídeo é assinado por Andryelle Araújo e estará disponível em janeiro, no Cine Santa Rita, quadro da Santa Rita TV que exibe a produção audiovisual de Santa Rita e de toda Paraíba. Assista a playlist: