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Inquietação e Sensibilidade

O Periódico Opinioso do Castelo da Curva do Rio

Trazendo pensamentos, lembranças, informações, entrevistas, comentários, o passado, o presente, o futuro e a narração de casos verídicos, em sua maioria fantasiados, escritos em prosa e verso pelo Segrel Paraibano Igor Gregório

Data: Nove de janeiro de dois mil e vinte cinco

Título: Inquietação e Sensibilidade

O que faz de uma pessoa um artista? É valorização externa? É o palco que ela tem para expor a sua arte? Ou será simplesmente aquele sentimento incontrolável de inquietação e sensibilidade que ela carrega dentro de si?

Me considero um artista, mas com toda sinceridade, humildade e respeito, eu não dependo de ninguém para me sentir assim. Não preciso de plateias, de palco ou de aplausos. Eu amo escrever e escrever é o que eu faço. E minha mente é dominada por isto, desde o momento em que acordo pela manhã até o momento em que retorno à minha cama e fecho os meus olhos para mergulhar no mundo dos sonhos, e até neles eu vivo e revivo o amor pelas letras, palavras, frases, versos e estrofes. Eu não preciso que alguém me diga “este cabra é um artista” para fazer arte. Eu a vivo e a arte é indivisível do meu viver.

Claro, tenho minhas rotinas paralelas: trabalho, casa, filho, esposa, carro, parentes, amigos e tudo mais que requer minha atenção além da escrita. Mas em todos estes momentos eu estou pensando na arte que produzo. Ela é o alimento das minhas células. Portanto, eu não sou um empregado de uma empresa, ou um pai e marido, ou um pertencente da família tal. Não! Eu só estou momentaneamente nestes lugares exercendo estes papeis. Sou na verdade um artista. Sou um escritor.

E como eu, há inúmeros artistas anônimos neste planeta. Por vezes estas pessoas têm a sorte de se encontrar em um mesmo ambiente, como em um Sarau organizado por um professor de ensino médio que, insatisfeito com a sua rotina, decide reunir os amigos em sua casa para que cada participante exerça sua arte. Pois todos os convidados, assim como o professor, não são artistas consagrados, não possuem um palco formal. Só possuem um sentimento incontrolável de inquietação e sensibilidade. E eu estive lá no meio desse povo, desse Sarau, sentindo o meu pertencimento.

Pouco antes de começar o Sarau uma figura pequena e acanhada, com uma mochila nas costas e um boné na cabeça, atravessa o ambiente onde todos estávamos em direção a um quarto da casa. Lá, para o meu total desconhecimento, essa figura preparava a sua apresentação. E eis que, começando o Sarau, aquela singela figura surge transformada e travestida de Ney Matogrosso. E dessa maneira, totalmente liberta, ela dubla o Ney.

Quando finaliza sua apresentação o artista explica, em palavras encabuladas, que faz isso há 50 anos e que em paralelo é vigilante numa escola do município. Meu espanto foi total diante deste personagem digno das mais loucas narrativas de Nelson Rodrigues. Como uma pessoa que se transforma em um ser que é o símbolo da desvirilação masculina consegue conviver tranquilamente neste outro mundo viril e, com certeza, repleto de preconceitos? Dúvida não respondida! O que eu sei é que ele vem conseguindo.

Ali, observando aquele ser, me dei conta do que comecei falando aqui: Ali estava um artista que, independentemente do palco ou do meio social em que vive, produz a sua arte. Uma arte tão forte e reconfortante como a de qualquer artista. Uma arte que independe de aplausos e que só precisa satisfazer uma pessoa neste mundo todo: O próprio artista!

Igor Gregório
Igor Gregório
Nasceu na Parahyba. Escritor por vocação, já publicou vinte e um Folhetos de Cordéis, chegando a ser contemplado com premiações estaduais. Em 2023 publicou seu primeiro de livro de poemas: Alma-de-Gato no Voo da Alvorada. Além do trabalho impresso, tem uma produção ativa nas redes sociais, colunas e em saraus.