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Quem vigia os vigilantes?

Em 1986, um escritor inglês chamado Alan Moore escreveu uma das obras mais importantes da indústria dos quadrinhos: Watchmen. Sua influência e importância permanecem até os dias de hoje nesse segmento. A obra consolidou o termo graphic novel e elevou o reconhecimento das histórias em quadrinhos ao status de nona arte.

Mas quem é Alan Moore e por que Watchmen é tão importante? Bem, Alan Moore é provavelmente o maior escritor inglês de histórias em quadrinhos de sua geração. Iniciou sua carreira nos anos 70 e se consolidou na década de 80 nessa indústria. Além de Watchmen, escreveu a melhor fase do personagem Monstro do Pântano, assim como A Piada Mortal, considerada por muitos a melhor história do Batman. Também é autor de dezenas de livros, contos e poesias. Algumas de suas obras, como V de Vingança, A Liga Extraordinária e a própria Watchmen, foram adaptadas para outras mídias, como filmes, animações e séries de TV — todas, obviamente, sem seu consentimento, já que o escritor nunca aceitou adaptações de suas obras.

Em Watchmen, Alan Moore, com os desenhos de Dave Gibbons e as cores de John Higgins, nos apresenta um universo de super-heróis onde os personagens são falhos, complexos e moralmente questionáveis. A história se passa nos Estados Unidos, durante a Guerra Fria, onde os vigilantes mascarados foram obrigados pelo governo Nixon a se aposentarem. O governo temia os vigilantes, alegando que aqueles que defendem a lei e a ordem estão sujeitos às mesmas possibilidades de abuso e corrupção que qualquer outro indivíduo. Por isso, a frase tão popular “Quem vigia os vigilantes?” aparece de forma recorrente na obra.

Um desses personagens, conhecido como Comediante, é misteriosamente assassinado, o que desencadeia uma investigação que vai revelando uma trama muito mais sombria. Fugindo dos clichês, a obra aborda temas sérios e densos como violência sexual, racismo, existencialismo e moralidade, tudo isso inserido numa atmosfera de paranoia típica da Guerra Fria e da iminente possibilidade de uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética. Além de todos esses elementos, Alan Moore ainda nos apresenta uma narrativa paralela dentro da própria obra, intitulada Contos do Cargueiro Negro.

Meu primeiro contato com essa obra aconteceu ainda nos anos 80, quando foi publicada pela primeira vez aqui no Brasil. Minha percepção, à época proporcional à minha juventude, não me permitiu apreciá-la nem compreender sua grandeza naquele momento. Com o passar dos anos, reli algumas vezes e sempre encontro — ou redescubro — algo interessante durante a leitura. Mais recentemente, em 2024, tive o privilégio de conhecer John Higgins, o colorista de Watchmen, em um evento de cultura pop aqui na capital. Muito simpático e receptivo, conversou comigo e autografou a edição que está na minha estante.

Essa obra modificou a indústria dos quadrinhos e influenciou toda uma geração de escritores e desenhistas, por ser uma obra complexa e critica. Utilizando de elementos sociais como politica, existencialismo, natureza humana e super-heróis.

Joelson Nascimento
Joelson Nascimento
Formado em Ciências Sociais pela UFPB e Professor de História. Especialista e Sociologia e Direitos humanos em Educação pela UFPB. Apaixonado por Histórias em Quadrinhos, amante da sétima arte e estudante de música.

1 COMENTÁRIO

  1. Cara que massa, poucas pessoas falam dessa obra. Nunca li, mas já vi em outras mídias. Saber que o autor nunca autorizou a adaptação me aguçou a vontade de ler a obra original. Parabéns pelo artigo.

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