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Presença Eterna

Aderaldo Tavares personificava de forma única e inesquecível o espírito campinense do século XX. Homem de simplicidade e erudição, ele emergiu de uma geração brilhante, que produziu figuras notáveis como Bráulio Tavares, Arnaldo Xavier e José Nêumanne Pinto. Diferentemente de muitos de seus contemporâneos que buscaram horizontes mais amplos, Aderaldo escolheu permanecer em Campina Grande, sua terra natal. Ele herdou o ponto na feira central de sua família, onde trabalhou como marchante, destacando-se como o feirante mais tranquilo, sereno e eloquente que já conheci.

Visitei sua casa duas vezes, ocasiões em que entrevistei Aderaldo para a biografia que estou escrevendo sobre seu amigo de infância, o poeta e militante negro Arnaldo Xavier. Nessas visitas, mergulhei em suas memórias de estudante, feirante, cineclubista, além de suas lembranças de infância e juventude no bairro do Santo Antônio. Aderaldo faleceu há alguns meses. Não tive a oportunidade de me despedir, pois estava em Aracaju para um concurso. Soube de sua morte na noite anterior ao exame, e talvez o choque de sua partida tenha contribuído para meu desempenho insatisfatório.

Em minha mente, Aderaldo permanece presente. Sinto constantemente sua presença, seus olhos claros me observando, o olhar tímido, o corpo pequeno e a cabeça grande que balançava ao ritmo de suas reflexões. Seu sorriso era luminoso, suas palavras, precisas. Embora não tenha sido um de seus amigos mais próximos, poderia ter sido. Guardarei para sempre a lembrança de sua presença em meus lançamentos de livros e dos encontros casuais e não planejados na Rua 13 de Maio ou à margem do Açude Novo.

Uma história memorável sobre Aderaldo foi contada certa vez. O narrador foi o fotógrafo Sóstenes Lopes, professor da UFCG. Ele passeava pela feira de Campina Grande com Evandro Teixeira, ícone do fotojornalismo brasileiro, quando Aderaldo surgiu, perguntando se aquele era realmente o fotógrafo brasileiro. Sóstenes confirmou e acabou por capturar a essência desse encontro improvável entre um feirante culto, leitor ávido e conhecedor de arte, e um dos maiores fotógrafos do Brasil. Ambos pareciam íntimos. Assim era Aderaldo, um homem capaz de unir mundos distintos com sua curiosidade insaciável e amor pela cultura.

Na foto, da esquerda para a direita: José Neummane Pinto, Isabel Castro Pinto, Bruno Gaudêncio e Aderaldo Tavares, em Campina Grande-PB.